Talvez seja um engodo mais que sedutor para deixar oculto algo que requer mais do que intimidade para ser revelado.
Mas por outro lado esse mesmo olhar irradia intensa melancolia, que por alguns segundos percebi a vida monótona com algumas pinceladas azul da cor do céu contornadas sem formas como se fossem um oráculo a ser descoberto. Há certa magia nesse olhar que me conquistou de corpo e alma. Um olhar, que as vezes espia sem ser notado. Olhares sem vida possuem essa qualidade passam despercebidos no meio da multidão. E nesta multidão estava eu. Uma pessoa que sente atração pelo que não é comum. No meio de milhares de pessoas o meu olhar brilhou ao ver aqueles olhos pretos e opacos. Engoli seco. Senti um frisson em minha barriga. Não, não eram borboletas eram abelhas que queriam sair de dentro de mim e levar um pouco de mel para aqueles olhos necessitados de doçura. Fiquei parada! Senti meu ciático arder por detrás das minhas pernas. Não conseguia me mover. Mantinha meus olhos naqueles olhos perdidos. Se eu conseguir dar 3 passos largos consigo chegar até eles, pensei comigo. Mas me mantive imóvel. Quando fico tensa meu corpo todo retesa deixando minhas emoções inquietas dentro de mim. Pisquei algumas vezes devido ao vento que surgiu repentinamente. O Universo quando está em sintonia com o nosso sentir usa de todos os artifícios para nos dar um “empurrãozinho”. E foi exatamente o que aconteceu. O vento me desequilibrou e acabei caindo. Me desesperei porque não conseguia ver aqueles olhos sem vida mas que por alguma razão encheram os meus de desejo. Tentei levantar! Pernas e mais pernas passavam por mim. Era como se eu não existisse. Tenho vida nos olhos e por estar aqui no chão passei a ser aquele olhar que ninguém notava, refleti comigo mesma. Uma sincronia extravagante acontecia. Podia sentir que ninguém me olhava. Porque as pessoas não olham mais?, indaguei para mim Por falta de um olhar lá estávamos nós naquele corredor humano mas sem nenhum sentido de ser humano. Coloquei meus óculos pois a ventania trazia poeira para meus olhos. Ainda no chão olhei para cima em busca de alguém para me ajudar. Ao tentar me levantar novamente senti duas mãos nas minhas, olhei para cima e o olhar sem vida estava ali. Deixei uma lágrima escorrer pelo rosto pois não poderia imaginar ser ajudada por aqueles olhos que pareciam inertes. Quando me levantei e ficamos cara-a-cara pude sentir o pulsar da vida em seu olhar. Ainda de mãos dadas eu disse: - Obrigada por me ajudar! - Não agradeça pois você trouxe a vida de volta ao meu viver. Se não tivesse me olhado com tanta emoção eu não teria meios para te encontrar. O brilhar de nossos olhos se fundiu e naquele momento percebi que o que se mantinha oculto naquele olhar eram sentimentos que por ironia o impediam de sentir.
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Não falo de emoções e sentimentos genéricos ou ordinários, mas de algo mais profundo, se é que exista algum termo que possa definir...
Não gosto de iniciar textos com negativas que impregnam as palavras com nulidades “polindo” cada sentença como se “nunca” pudesse também ser considerada uma negação, porém a probidade tem seu lugar na primeira fileira do palco teatral que meu “coração” encena de modo visceral. Retrouvailles, palavra que expressa o sentimento de alegria, êxtase que sentimos quando finalmente encontramos a pessoa que amamos, após uma longa separação, no meu caso mesmo que esse encontro se dê através dos sonhos, não deixa de ser “real”. Acredito que esse termo francês consiga definir o “furor” que incendeia meu sentir de modo que não consigo ter controle sobre ele. É como tentar segurar um sabonete molhado.... Você tenta, tenta e chega uma hora que ele se esvai deixando seu olhar acompanhar sua trajetória. Assim acontece comigo! Resta-me mãos ensaboadas, e nada a mais! Não queria deixar de ter controle, mas ao mesmo tempo gostaria de saber o que aconteceria. Esse paradoxo aumenta exponencialmente as reticências que tanto queria transformar em pontos finais... Chego a extrapolar minhas reflexões, dando créditos definitivos aos meus sonhos que se confundem com a realidade. Talvez o amor que carrego até mesmo fisicamente de tamanha intensidade deva ser vivido na realidade onírica onde algum tempo já somos nós. É nesta realidade embalada pelo cerrar ansioso de meus olhos que me credencio como uma pessoa que ama e é amada como nunca imaginou, nem mesmo quando sem querer me pego sonhando acordada... Num emaranhado totalmente baseado na lógica reina os ambientes virtuais nos dando a nítida impressão de que, no meio de tanta razão, há o que sentir.
Como posso sentir neste mundo estranhamente frio e distante que, algumas vezes parece tão perto, que acredito que sou capaz de ter emoções mais intensas?! Assim como Beethoven emocionava seus ouvintes, sem ouvir sua própria música, uso as palavras para serem condutoras emocionais nesta realidade onde também não escutamos os corações de quem está do outro lado. O que me faz lembrar do magnífico filme Her(imagem acima) do diretor Spike Jonze, onde Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador chamado Samantha (Scarlett Johansson). Para a sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela personalidade deste programa virtual, e inicia uma relação amorosa entre ambos. Acredito que onde quer que existam palavras, a paixão e o amor podem acontecer. Ninguém está “protegido” de se apaixonar por textualidades que “confortam”, dão aconchego, cativam o ego. Aprender a cativar através da escrita é uma arte para aqueles que assim como eu acreditam que as palavras, se bem usadas, valem muito mais que uma imagem. A escrita torna-se a ligação mais elegante de expor os sentimentos para uma pessoa estranha a fim de conquistá-la única e exclusivamente através de palavras. As redes de relacionamentos exibem como se fossem vitrines, centenas de opções através de fotos e mais fotos, onde, algumas vezes, eu me pego pensando se não estou num shopping de pessoas escolhendo qual combina mais comigo. Inicia-se um balé de dedos que escorregam pela tela do celular em busca de alguém. Até que um dia…Match! A pessoa que “gostou” também curtiu sua foto e é neste exato momento que assim como em Game Of Thrones, atravessamos a “muralha” do virtualismo para entrar numa egrégora dialética. Neste domo feito por mim e por você precisamos nos conquistar através de palavras. Palavras sedimentadas em emoções que saibam criar um ambiente propício para um romance. Palavras que nos façam implorar pela descrição de um beijo caloroso onde possamos sentir nos espaços de cada sentença o nosso respirar ofegante a espera do primeiro “beijo” virtual. Uma sensação prazerosa é sentida e neste momento somos capazes de ouvir as batidas do coração que ressoam de modo tão profundo que tomamos consciência que o que seduz o coração, encanta a alma, pois o que “ali” expomos é a essência do sentir. |
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December 2019
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